Partes 34, 35 e 36

Parte 34 - Sobre a conexão com Deus
Parte 35 - Sobre seus Dons
Parte 36 - Sobre os anos como Testemunha de Jeová

Parte 34 - Sobre a conexão com Deus

SB: Você se diverte quando performa e faz música?

MJ: Sim. Eu adoro. Se não fosse divertido eu não faria. Eu faço porque amo muito isso. Não há felicidade maior do que dançar e performar. É como uma celebração e quando se é pego naquele lugar, quando certos artistas vão e se tornam um com a música, um só com a plateia, se você está nesse nível é como estar num transe, isso toma conta de você.

E você se desconecta e começa a saber onde está indo, mesmo antes de chegar lá. Eles têm que saber onde você está e responder. É como jogar ping-pong. É como quando os pássaros migram, eles sabem onde estão indo. Ou como os peixes. Eles são telepáticos, estão na mesma linha. Isso é o que acontece quando se performa, você é um com os músicos, com a dança e com a música e fica em transe. E cara, você os têm. Estão na palma da sua mão. É inacreditável. Você se sente transformado.

SB: Qual energia te leva para lá? É divina?

MJ: É divina, é pura, é revelação, sem que se faça soar espiritual ou religiosa, mas é uma energia divina. Algumas pessoas a chamam de espírito, como quando um espírito entra num quarto. Outras pessoas vêem isso com olhos maus. As pessoas, às vezes, o fazem... olham assim e dizem que é demoníaco, que é culto, que é o diabo. 

Não é, é muito de Deus, é pura energia divina. Você sente a luz de Deus. Quando eu performo certas músicas, como na Motown 25, ou quando eu dancei Billie Jean e fiz o moonwalk pela primeira vez no palco, e a platéia gritava quando eu fazia um pequeno movimento, e você movimenta a mão e... "Agghhh!!" [grito] em qualquer coisa que você faça. Eu fico como que pego num transe com tudo isso. Eu sinto, mas não ouço. Eu sinto tudo. E no final da peça, quando termino e abro os olhos e vejo a resposta, eu fico surpreso, pois estou em outro mundo. Eu fui um com o momento, trabalhando o momento, naquele momento.

SB: Então você não está fazendo para consolar ninguém. Talvez esse seja seu poder como artista. Nunca foi sobre o que as pessoas queriam, o quão condicionados, o quão acomodados as pessoas queriam ficar.

MJ: Não.

SB: Você pode ensinar as pessoas como chegar lá? Se há alguma amargura ou ódio no seu coração em momentos assim, se eles são, como você diz, divinos, você sente que se esvazia disso?

MJ: Esvazia. Você fica acima de tudo. Por isso que eu adoro ir a um lugar onde não há ninguém que possa fazer alguma coisa. O ponto de retorno se vai. É maravilhoso. Você foi tomado. 

Se sente isso, e isso não significa... todos que estão lá estão nessa com você, a plateia está nessa com você...

Parte 35 - Sobre seus Dons
SB: Jesus disse: "Deixai as criancinhas e parai de impedí-las de virem à mim." (Mateus 19:14) Ele tinha todas essas citações maravilhosas sobre crianças e as figuras mais santas foram vista rodeadas de crianças. Você se identifica com pessoas assim? Você sente que Deus tenha te dado mais do que apenas talento para a música?

MJ: Sim. Absolutamente.

SB: ... Espere. Eu acho que você tenha algo de especial a fazer aqui na Terra. Todo ser humano tem. E não podemos ignorar o fato de que você tenha um renome raramente visto antes. E temos que canalizar essa celebridade de uma maneira apropriada. É quando você se torna um professor, Michael, não apenas um artista, você tem que identificar o que é isso, que mensagem positiva você deseja conceder à humanidade.

É quando sua celebridade se torna algo como redenção. Na verdade, eu acho que a palavra entertainer para você é um pouco insultante. Você não é só um artista e deveria sempre se esforçar para ser muito mais do que meramente um entertainer (artista do entretenimento).

Eddie Murphy é um artista do entretenimento. Ele é ótimo. É engraçado, mas ninguém acampa do lado de fora da casa dele. Você entende o que eu quero dizer. Então, isso é uma coisa muito poderosa e você precisa determinar o que você quer alcançar com isso, de que jeito saudável e abençoado você possa usar isso. E não é sobre você, é sobre algo maior do que você - um objetivo que é grande e vai além do entretenimento. Você se vê sob essa capa? Você sente que Deus te deu certos poderes de cura?

MJ: Sim.

SB: Então, quando você fala com Gavin,  você o está curando, não apenas falando com ele?

MJ: Eu sei que o estou curando, e tenho visto criança me encherem de amor. E elas apenas querem me tocar e me abraçar, chorar e não me soltar. E elas nem me conhecem. Veja... às vezes, quando saio, ou apenas estou num lugar, as mãe pegam seus filhos e os colocam em meus braços: “Toque meu filho, toque meu filho, abraçe-os." Não é como a adoração de um herói, como a religião diz, idolatria.

SB: E não é idolatria? Porquê? Porque não estão adorando você? Porque eles querem se sentir melhor com eles mesmos? Por estarem bem perto de você eles se sentem mais leves, como se pudessem andar sobre a água. Por que isso não é idolatria?

MJ: Sim, por que minha religião nos ensinou que não se deveria fazer isso. Se eu fosse para minha igreja eles nunca me tratariam do mesmo jeito que a sua igreja me trataria.

(Quando levei Michael numa sinagoga para o Sabbath, as pessoas o cumprimentaram com muito entusiasmo. Já na sua igreja, eles fazem questão de não tratarem Michael de forma diferente dos outros adoradores. No caso da sinagoga, nós propositalmente não dissemos para todos os congregantes que ele viria, pois queríamos que a visita dele fosse calma e eu queria que Michael experimentasse a beleza e a serenidade do Sabbath sem o estorvo do barulho causado pela celebridade. Mas quando as pessoas o viram, elas correram para recebê-lo e cumprimentá-lo. Shmuley)

MJ: Eles teriam sido gentis depois da cerimônia. "Oi Irmão Jackson. Tudo bem?" Mas abraçar e dizer: "Oh, amamos você", eles nunca fariam isso. Eles sentiriam que isso é idolatria e não se deveria fazer isso.

 É errado, eles levam isso longe demais. Não há nada errado em dizer: “Obrigado, nós te amamos muito..."

Parte 36 - Sobre os anos como Testemunha de Jeová

SB: Você acha que um orgulho odioso ainda é uma relíquia na sua criação religiosa?

MJ: Me feriu muito e me ajudou muito.

SB: Como te feriu?

MJ: É... [longo silêncio]. Quando eu fiz certas coisas no passado que eu não tinha percebido que era contra a religião e eu fui repreendido, isso quase me destruiu. Certas coisas que fiz como artista em minha música, que eu não percebi que estava cruzando uma linha e quando me castigaram severamente, isso me magoou. Quase me destruiu. Minha mãe viu.

SB: A desaprovação deles? A rejeição deles?

MJ: Quando eu fiz o moonwalk pela primeira vez na festa Motown 25, eles disseram que eu estava fazendo uma dança burlesca e que era suja e por meses eles disseram: “Nunca mais dance daquele jeito de novo." Eu respondi que 90.9 % do ato de dançar é mover a cintura. Eles responderam: “Não queremos que você faça isso." Então eu tentei por muito tempo dançar sem mexer essa parte do corpo.

Então eu fiz Thriller com todos os zumbis e fantasmas, e eles disseram que era demoníaco e parte do Oculto e que o irmão Jackson não podia fazer isso. Eu chamei meu advogado e chorando eu disse: "Destrua o vídeo. Destrua." E por ele [o advogado] ter ido contra a minha vontade as pessoas têm Thriller hoje. Eles me fizeram sentir tão mal que eu ordenei que minha equipe o destruísse.

SB: Então você viu os dois lados da religião. O lado amoroso que ensinava não gostar do orgulho, mas também daquilo que se poderia descrever como má espiritualidade e o ato de julgar.

MJ: Porque eles discriminam, muitas vezes do jeito errado. Eu não creio que Deus quisesse tal coisa. Como o Halloween, eu perdi anos de Halloween e agora eu faço. É legal ir de porta em porta, com as pessoas te dando doces. Precisamos mais disso no mundo. Faz o mundo ficar unido.

SB: Você leva Prince e Paris para brincar o Halloween?

MJ: Absolutamente. Há uma família onde podemos ir na área e eles dão doces à eles. Eu quero que eles vejam que as pessoas podem ser gentis. Ficava tudo num saco e então [sussurrando] eu trocava os doces deles por candy eyeballs.

SB: Eu estava conversando com Andrew Sullivan noite passada, o jornalista editor do The New Republic. Tivemos um debate sobre homossexualidade na universidade e depois conversamos sobre você e ele ficou surpreso em ouvir coisas legais sobre você e ele disse: “Por que eu não sabia disso?, eu respondi: "Não sei."

Percepções repentinas assim, Michael... A essência do Halloween. Você deveria enviar notas impressas sobre essas coisas. A essência do Halloween é fazer com que as crianças testemunhem a gentileza das pessoas. Eu gosto disso. É um pensamento legal. Isso eleva a brincadeira de 'doces ou travessuras' para algo com mais significado do que apenas a distribuição de doces.

MJ: Eu choro atrás da minha máscara. Eu choro mesmo quando vou com eles e as pessoas dizem: "Abra a bolsa" e eu penso, olha só o que eu perdi. Eu não conheci isso... Eu olho no rosto deles e eles estão te dando um presente. É gentil. As crianças vêem e abrem suas bolsas e dizem: "Oh, olha esse pequenino!" 

E é muito doce a forma como respondem. Eu acho isso muito gentil. Dessa parte da América eu tenho orgulho.